Ao longo da história do futebol, é raro encontrar figuras que foram geniais tanto dentro de campo, como jogador, quanto fora, como técnico. Ao se pensar no assunto, Zagallo, Beckenbauer e Cruyff talvez sejam os primeiros nomes que vêm à mente, mas é inegável que outro personagem, um tanto quanto mais jovem, já pede passagem para ocupar um lugar nesta seleta lista. Zinédine Zidane, três vezes eleito o melhor jogador do mundo e considerado um dos futebolistas mais elegantes de todos os tempos, também já pode, por que não, ser considerado um dos grandes treinadores da era moderna do futebol. Aos 48 anos, o francês faturou mais um título nesta quinta-feira, 16, – desta vez, o do Campeonato Espanhol – e se tornou ainda mais icônico para aquele que é considerado o clube mais importante do mundo. A ponto de muitas pessoas já se questionarem: será que Zidane é o maior técnico da história do Real Madrid?
O debate não é nem um pouco absurdo. O ex-volante, por exemplo, já ocupa a segunda posição entre os treinadores com mais títulos pela equipe merengue. São 11: dois Campeonatos Espanhóis, três Ligas dos Campeões da Europa, dois Mundiais de Clubes, duas Supercopas da Espanha e duas Supercopas da UEFA. O único que o supera neste quesito, e que, para muitos, ainda se mantém como o maior técnico do Real Madrid em todos os tempos, atende pelo nome de Miguel Muñoz. Primeiro ser humano a levantar uma Champions League pelos Blancos, o espanhol, que morreu em 1990, soma 14 conquistas com o time madridista. São elas: nove Campeonatos Espanhóis, duas Copas do Rei, duas Ligas dos Campeões da Europa e uma Copa Intercontinental – equivalente ao atual Mundial de Clubes.
Considerando o número de jogos e vitórias, Muñoz também está à frente de Zidane. O espanhol é o treinador que mais comandou o Real Madrid na história (605 vezes) e o que mais triunfou (357 vitórias). Zizou, porém, é o terceiro colocado na quantidade de partidas (209, atrás também de Vicente del Bosque, com 246) e o segundo com mais triunfos (141). O detalhe, no entanto, é que Muñoz foi técnico do Real por quase 14 anos – entre abril de 1960 e fevereiro de 1974. Já Zidane, que pendurou as chuteiras em 2006, comandou o time merengue por “míseros” três anos e nove meses – primeiro, entre janeiro de 2016 e maio de 2018, e agora, desde março de 2019.
Se, sob o comando do francês, o Madrid não joga o futebol mais vistoso e encantador do mundo, a eficiência e capacidade de enfileirar títulos que a equipe desenvolveu tendo Zidane no banco de reservas são assustadoras. E isto ficou ainda mais claro nesta quinta-feira, quando Sergio Ramos, Casemiro, Benzema e companhia consagraram uma incrível arrancada após a paralisação do futebol com um improvável título nacional. Para muitos, afinal, era quase certo que o Barcelona de Lionel Messi e Luis Suárez encerraria a temporada com a primeira colocação de La Liga – como aconteceu em oito dos últimos 12 anos.
Para Bruno Prado, comentarista do Grupo Jovem Pan, com a conquista de hoje, Zidane indubitavelmente se consolida como um dos maiores treinadores da história do Real Madrid. “Ele, sem dúvidas, está na história do Real. Tanto como jogador quanto como técnico. É difícil afirmar que ele é o maior treinador da história do clube. Para mim, só Miguel Muñoz, que comandou o time histórico dos anos 60, muito vitorioso, de Alfredo Di Stefano, pode concorrer com ele. Pela longevidade e pelos títulos, eu ainda coloco o Muñoz à frente do Zidane. Mas o Zidane está ali… Ele já ganhou três Champions Leagues e, agora, faturou o segundo título espanhol, que é uma questão bem importante para Real Madrid, porque, nos últimos anos, a liga nacional tem sido dominada pelo Barcelona. O Real conquistou poucos títulos espanhóis na última década. Foram apenas três”, lembrou.
“E o próprio Zidane fala que o título espanhol da temporada 2016/17 foi uma conquista em que ele foi mais importante do que no tri da Champions. Pela participação do treinador, mesmo… Porque, nos pontos corridos, o trabalho de um técnico fica mais claro do que em um mata-mata. Nos pontos corridos, o trabalho do treinador no dia-a-dia fica mais evidente, porque você precisa de regularidade, precisa jogar bem e ganhar sempre. Naquela temporada, o principal mérito do Zidane foi rodar bem o elenco. E, em 2019/20, ele também usou bastante as peças que tinha à disposição. Principalmente no retorno após a paralisação, ele alternou muito os jogadores do setor ofensivo. Hoje, é muito difícil falar qual é o trio de ataque titular do Real Madrid. O Benzema joga sempre, mas aí você tem Rodrygo, Vinicius Júnior, Asensio, Hazard, Bale, Isco…. O que dá para falar sobre o Zidane como técnico é que ele não trouxe nenhuma grade revolução para o futebol, como fez o Guardiola, por exemplo, mas é um treinador muito simples e eficiente. Não trouxe nenhuma grande novidade, mas o time dele é bem armado, e o Zidane mexe muito bem na equipe. Várias vezes, eu vi o Real Madrid melhorar após as alterações do técnico francês. Ou seja: ele sabe usar muito bem o que tem na mão e sabe mexer no momento certo. É um bom treinador e que, com certeza, já está na história do Real Madrid”, acrescentou Bruno Prado.
Quais outros treinadores estão no “Olimpo” do Real Madrid?
Miguel Muñoz e Zinédine Zidane ocupam um espaço só deles no topo da galeria de técnicos do clube merengue. Ponto. Há pelo menos mais três treinadores, no entanto, que aparecem logo atrás. O primeiro deles é Vicente del Bosque. Responsável por comandar a Espanha ao inédito título mundial de 2010, o carismático profissional esteve à frente do Real entre novembro de 1999 e junho de 2003 e conquistou sete títulos: dois Campeonatos Espanhóis, duas Ligas dos Campeões da Europa, uma Supercopa da Espanha, uma Supercopa da UEFA e uma Copa Intercontinental. Em seguida, quem pode ser citado é Carlo Ancelotti. O italiano comandou o time merengue de junho de 2013 a 25 de maio de 2015 e faturou quatro títulos: uma Liga dos Campeões da Europa, uma Copa do Rei, uma Supercopa da UEFA e um Mundial de Clubes. Quem fecha o Top 5 é Leo Beenhakker. O holandês ocupou o banco de reservas madridista entre julho de 1986 e junho de 1989 e ergueu seis taças: três Campeonatos Espanhóis, uma Copa do Rei e duas Supercopas da Espanha.