No final de 2018, o número de investidores pessoa física na Bolsa de Valores brasileira, a B3, mal dava, em termos de Brasil, para ser chamado de pequeno: 700 mil – o equivalente a 0,3% da população. Em junho, estavam perto dos 2,65 milhões ou 1,2% dos brasileiros. E não se trata apenas de aumento numérico. Em maio, pessoas físicas movimentaram R$ 123 bilhões, mais dinheiro do que os R$ 121 bilhões movimentado pelos bancos. No volume do mês, equivaleram a 23%. Não dá para atribuir o crescimento só a eles, mas, acompanhando a entrada em massa na B3, o volume de negócios aumentou 73% em um ano.
É um investidor que chegou à Bolsa empurrado pela queda na taxa de juros, a Selic, hoje em 2,25% ao ano. Mas, o primeiro investimento mostra que, na média, não tem muito dinheiro. A primeira compra é de R$ 1.622, quando dois anos atrás era de R$ 3.000. Já o total investido fica em torno de R$ 8.000 – 40% dos R$ 20 mil de 2018. Em março, 30% dos novatos na Bolsa entraram com menos de R$ 500.
Durante muito tempo, o foco da B3 foi nos donos de grandes volumes de dinheiro. Tinham o dobro do valor investido na comparação com os pequenos. A Bolsa era elitizada enquanto nos Estados Unidos quase metade da população investe no mercado financeiro. Mesmo a Colômbia, com 3% da população na Bolsa, tem, proporcionalmente, mais investidores do que o Brasil. Em 2020, na B3, 98% têm hoje menos de R$ 1 milhão aplicado. Os milionários não passam de 30 mil. E 800 mil pessoas têm menos de R$ 300 mil em ações ou fundos imobiliários.
Esse pequeno investidor passou ao centro do mundo dos investimentos. Lives de CEOs de empresas, gestores, youtubers, influencers, todos promovendo educação financeira. E, pelo jeito, está funcionando. Quase metade dos pequenos na B3 têm na carteira outro ativo de que não ações. Além disso, quatro em cada dez diversificam a carteira com pelo menos cinco ativos. E outro efeito importante será baratear o dinheiro para as empresas. Trinta e cinco ofertas de ações devem ocorrer na Bolsa nos próximos meses. Dinheiro que entra na economia como investimento. Toda essa revolução serve para encerrar a visão de que Bolsa é para os ricos. Como mostram os números, tem sido cada vez menos.
*Samy Dana é economista e colunista da Jovem Pan.