PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Em Porto Alegre, a venda de casas cresceu 237% entre março e maio, de 8 para 27 unidades, nos negócios fechados pela imobiliária Foxter, uma das principais da cidade. Em maio, a maioria das casas vendidas (17 das 27) integram condomínios.
Em meio as recomendações de distanciamento social, o aumento das vendas na capital do Rio Grande do Sul acompanha o crescimento da procura por imóveis maiores por brasileiros de alta renda, principalmente nas regiões próximas às capitais ou mesmo no interior, segundo relatos de corretores e executivos do setor.
“As casas em condomínio são mais procuradas do que as de rua por causa da segurança. Identificamos também que, mesmo nos apartamentos, há mais busca por locais com possibilidade de um local para home office”, explica Fernando Erhardt, sócio e diretor da Foxter.
Uma casa em condomínio, com 218 m², foi a escolha do casal gaúcho Henrique Velloso, 37, e Daniella Los Angeles, 35. “Atualmente moramos em um apartamento de dois quartos e um deles já é escritório. A casa tem a vantagem de ter três quartos e um sótão. Um dos quartos será para home office e o sótão também pode virar um local para o computador. Poderemos trabalhar mais tranquilamente desta forma”, explica Velloso.
O casal tem seguido o isolamento social e ambos trabalham remotamente, ele como desenvolvedor de software e ela servidora pública. Não só o espaço para os cachorros e o preço do imóvel (R$ 950 mil, valor de apartamentos com a metade da metragem) pesaram na decisão. A pandemia também influenciou a escolha.
“No prédio, precisamos subir e descer de elevador com compras, com o lixo. Cruzamos com pessoas que não temos certeza que seguem os mesmos cuidados que nós. Na casa, isso não vai acontecer”, explica Velloso.
O condomínio, empreendimento da construtora Melnick Even, é considerado uma raridade: não há tantos terrenos adequados para conjunto de casas na área urbana. O mais comum é que sejam em áreas afastadas, explica Leandro Melnick, presidente da construtora.
Melnick nota que aumenta a procura por apartamentos que tenham características de casa. A tendência, anterior à pandemia, tem se acentuado. “Estamos apostando mais em condomínios de apartamentos que buscam características encontradas em casa. No alto padrão, há apartamentos com terraço e espera para spa ou piscina em toda sacada”, diz Melnick.
Advogada que trabalha com direito imobiliário há 12 anos, Ingrid Spohr Scalzilli viu saltar os contratos de compra de casa nos últimos dias. “A Covid-19 mudou o perfil dos imóveis que as pessoas buscam. Antes, eram imóveis menores, próximo ao trabalho para evitar tanto trânsito. Com o home office, precisa de um espaço interno maior e o trânsito foi ‘eliminado’, então vemos casas afastadas do centro”, conta.
Além da mudança do perfil, Scalzilli notou que os compradores estão com mais pressa para fazer a mudança. “Há certa urgência. Quando se fala em posse, agora falamos de coisas imediatas”, relata.
Em Brasília, a procura por casas em condomínios também está em alta. Mensalmente, o corretor da 61 Imóveis, Sidney Mota, tem fechado de 10 a 15 negócios. O fenômeno iniciou em abril, conta ele, especializado na venda de casas.
Parte significativa dos negócios ocorre por permuta: um casal cujos filhos adultos saíram de casa quer um apartamento menor. Uma família com filho pequeno procura uma casa com pátio, por exemplo. Normalmente, a casa é mais cara que o apartamento, o que exige uma complementação do valor.
“São casas de 450 a 500 m², de alto padrão, em regiões como Jardim Botânico, Lago Sul, Lago Norte e Park Way com valor que iniciam em R$ 1,2 milhão”, explica Mota.
Os aluguéis de casas de condomínio, com contratos de três a seis meses, também aumentaram em Brasília, de acordo com o corretor.
A demanda por aluguéis de casas afastadas e próximas da natureza chamou atenção do corretor Idalecio Soares, do Recife. A procura não é necessariamente por casas na praia, mas na serra, diz.
“Se antes os aluguéis eram por final de semana e feriados, em festas como a de São João, agora são para período de vários meses”, diz Soares.
Casas na serra de Gravatá, a 84 km do Recife, são as mais cobiçadas por quem quer seguir o isolamento social com vista para áreas verdes de altitude.
“Com a pandemia, o pessoal alugou tudo que havia para alugar em Gravatá para ir ao interior com a família. Os preços subiram e mesmo assim foi alugado o que tinha para alugar”, explica Soares. Segundo o corretor, os valores variam de R$ 4 mil a R$ 8 mil.